Pão com mortadela e a Conferência das Mulheres
Vencemos as dificuldades e o preconceito (inclusive entre as próprias mulheres)

Essa semana aconteceu em Brasília a 5ª Conferência Nacional de Políticas para Mulheres. Depois de 10 anos sem realização de conferências, vivemos uma festa e uma luta para as mais de 4 mil mulheres inscritas, representando as mais de 150 mil mulheres nas etapas preparatórias. Tive a honra de ser uma delas, representando a Conferência Livre sobre Violência Política de Gênero da Coalizão Nacional de Mulheres.
Mas não foi fácil para as mulheres chegarem lá!
E mesmo as que conquistaram esse direito, passaram por toda sorte de provações para conseguir cumprir o objetivo. Era responsabilidade dos Estados custear as passagens de suas delegadas desde as suas cidades, até Brasília. Algumas enfrentaram 3 dias de viagem, outras um dia inteiro, sem o fornecimento de alimentação. As delegadas de São Paulo tiveram mais “sorte”: o governo do Estado fretou 2 aviões para levar as delegadas da Capital até Brasília.
Violência territorial mais do que explícita, se recusou a custear o deslocamento das delegadas do Interior até a capital, condenando à exclusão aquelas de cidades pequenas ou de municípios sem recursos ou tempo disponível para esse custeio. Não bastasse a violência territorial, foi servido um lanchinho no avião, recheado de violência simbólica: pão com mortadela, numa evidente – e lamentável – alusão à gíria dos bastidores da política para a “militância paga” dos partidos de esquerda. Como se as mulheres fossem incapazes de ocupar uma conferência pela sua própria vontade de construir políticas públicas que possam melhorar a sua qualidade de vida.
Mas apesar de tudo isso, vencemos!
Negociamos uma solução para o custeio da viagem das delegadas de Rio Preto com o Conselho da Mulher via Secretaria Municipal, chegamos a Brasília unidas e plurais, defendemos as nossas propostas, que constituirão um plano nacional de políticas para as mulheres, fizemos uma linda festa da democracia e vencemos!
Aprovamos diretrizes importantes para garantir mais acessibilidade, mais igualdade, inclusão, segurança, autonomia, educação, saúde integral, participação nos espaços de poder com menos violência, combate à violência doméstica, ao etarismo, racismo, sexismo, capacitismo, transfobia e lesbofobia, e apesar das tentativas de exclusão, prevaleceu a proteção de todas as mulheridades.
Vencemos as dificuldades, o preconceito (inclusive entre as próprias mulheres), os estereótipos... vencemos a batalha, mas a luta continua...
Alexandra Fonseca
Advogada, ativista e membra do Coletivo Mulheres na Política e da Coalizão Nacional de Mulheres