Pequenas indústrias e a COP30
A expectativa é que a COP30 traga mais clareza e objetividade ao debate. É necessário criar condições para que o pequeno e o médio empresário possam caminhar junto das grandes corporações na transição energética

O Brasil se prepara para receber a COP30, em novembro, em Belém do Pará, e o discurso sobre inovação, sustentabilidade, energia renovável e economia circular se intensifica. A conferência promete reafirmar o papel da indústria na transição para uma economia de baixo carbono, mas, fora dos painéis e das metas internacionais, o cenário é bem mais complexo, especialmente para os pequenos e médios empreendedores.
Embora a matriz energética brasileira seja uma das mais limpas do mundo e as grandes indústrias invistam em inovação, eficiência e descarbonização, o pequeno empresário ainda enfrenta um caminho cheio de obstáculos. A maioria tem dificuldades em cumprir as normas ambientais, acessar crédito e adaptar processos produtivos. O resultado é uma sensação crescente de que as políticas de sustentabilidade são feitas para poucos.
Para empresários do interior paulista, as regras que envolvem energia renovável, economia circular e descarbonização continuam distantes da realidade de quem tem pouco capital e margens de lucro apertadas. Muitos relatam que o custo de adaptação é alto e os benefícios demoram a aparecer. O pequeno até quer participar, mas não tem estrutura técnica nem apoio suficiente para isso.
Entidades como o Ciesp e o Senai têm trabalhado para aproximar as indústrias das práticas sustentáveis, oferecendo cursos, consultorias e projetos de eficiência energética. Mas, mesmo com esse suporte, a adesão ainda é lenta. Falta financiamento adequado, e a burocracia segue como uma das principais queixas do setor. Sem incentivos fiscais ou linhas específicas de crédito verde, a transição energética avança desigualmente.
Os desafios se ampliam quando o tema é inovação. As exigências técnicas e a necessidade de certificações ambientais afastam os pequenos negócios das oportunidades ligadas à economia de baixo carbono. A falta de políticas públicas direcionadas faz com que muitos desistam de investir em tecnologias limpas ou em processos de reaproveitamento de resíduos, mesmo reconhecendo sua importância.
O mercado de carbono, que será um dos principais temas da COP30, também gera dúvidas. Para os pequenos industriais, ainda é um sistema pouco compreendido e sem regras claras. Se houver regulamentação adequada, ele pode se tornar um instrumento de incentivo real à inovação sustentável — desde que alcance empresas de todos os portes, e não apenas as grandes corporações.
Na região Noroeste Paulista, há casos pontuais de avanço, com indústrias que adotaram energia solar, reaproveitamento de água e reciclagem de subprodutos. No entanto, a maioria das empresas ainda não consegue participar plenamente dessa nova economia verde. Os custos de implantação e a falta de mão de obra qualificada são entraves constantes.
A expectativa é que a COP30 traga mais clareza e objetividade ao debate. É necessário criar condições para que o pequeno e o médio empresário possam caminhar junto das grandes corporações na transição energética.
Enquanto isso não acontece, a desconfiança permanece. O discurso sobre a economia verde é amplamente aceito, mas a prática ainda está concentrada nas mãos de quem tem recursos. Para o pequeno empreendedor, a sustentabilidade continua sendo um ideal distante, e caro.
A COP30 será, portanto, um teste de realidade. O mundo virá ao Brasil discutir o futuro do planeta, e será preciso mostrar que a economia de baixo carbono não é privilégio de poucos, mas um caminho possível para todos os que produzem, gera empregos e mantêm viva a base da economia nacional.
Aldina Clarete D'Amico
Diretora-titular do Ciesp Noroeste Paulista