Plano Chinês, autonomia e tecnologia
Os objetivos sociais e culturais incluem fazer progressos culturais e éticos em toda a sociedade

O planejamento estratégico de longo prazo tem sido um dos pilares do avanço chinês nas últimas décadas. Desde o primeiro Plano Quinquenal (PQ) (1953–1957) - período de Mao Tse - inspirado na experiência soviética, a China construiu uma tradição de planejamento estatal que evoluiu de forma notável em sofisticação e eficácia. Entre 1978 e 2020, seu PIB cresceu exponencialmente, elevando o país da condição de economia periférica à segunda maior do mundo.
O 13º Plano (2016–2020) cumpriu todas as 25 metas quantitativas — como dobrar o PIB em relação a 2010 e atingir 60% de urbanização — e antecipou objetivos energéticos cruciais, como os 1.200 GW de capacidade solar e eólica, alcançados em 2024.
Hoje, o 15º Plano Quinquenal (2026–2030) aponta para a modernização socialista até 2035. Os princípios orientadores do plano colocar o povo em primeiro lugar, buscar o desenvolvimento de alta qualidade, aprofundar a reforma, promover a interação entre mercado e governo e garantir o desenvolvimento e a segurança.
Os objetivos econômicos visam modernizar o sistema industrial, fortalecer os fundamentos da economia real, construir um mercado doméstico robusto e promover um novo padrão de desenvolvimento. Em termos científicos e tecnológicos, busca-se alcançar maior autoconfiança e força em ciência e tecnologia e direcionar o desenvolvimento de novas forças produtivas de qualidade.
Os objetivos sociais e culturais incluem fazer progressos notáveis culturais e éticos em toda a sociedade, melhorar a qualidade de vida e promover a revitalização rural. Para o desenvolvimento em geral, a China deve inspirar a criatividade cultural, promover o bem-estar público, acelerar a transição verde e modernizar a segurança nacional.
Até 2027, a China pretende integrar IA profundamente em seis setores-chave, com penetração superior a 70% em terminais inteligentes — índice que saltará para 90% até 2030. A iniciativa “IA+” busca não apenas inovação, mas eficiência concreta: otimização logística, manutenção preditiva, redução de custos operacionais.
Nos anos 1953 (Vargas) o Brasil também adotou seu primeiro plano quinquenal, a “Grande Aceleração”, voltado à Amazônia. Enquanto a China evita o que Xi Jinping chamou, em maio de 2025, de “planejamento pendurado na parede”, o Brasil precisa superar o “enigma brasileiro” citado por Brizola em junho de 1961. Não basta admirar o modelo chinês; é preciso compreender sua disciplina institucional, sua capacidade de alinhar política, tecnologia e produção.
Como escreveu Darcy Ribeiro, “a coisa mais importante para os brasileiros [...] é inventar o Brasil que nós queremos”.
Leon Fagiani
Advogado, associado da Apeti, especialista em tecnologia.