Diário da Região
ARTIGO

Por reparação e bem-viver

Nossa força coletiva tem potencial para promover reparações históricas

por Thainá da Silva Costa
Publicado há 22 horasAtualizado há 8 horas
Thainá da Silva Costa (Thainá da Silva Costa)
Thainá da Silva Costa (Thainá da Silva Costa)
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“Cumé que nós chegamos a este estado de coisas?”, indagou Lélia Gonzalez em um de seus textos sobre a condição da mulher negra na sociedade brasileira. Em seguida, ela mesma responde: “Nós nunca saímos deste estado de coisas.” A pergunta e a conclusão de Lélia evidenciam a complexa teia de problemáticas que mulheres negras vivenciam há muito tempo.

Em São José do Rio Preto, a realidade não é diferente daquela descrita por Lélia. Como resultado da 2ª Marcha das Mulheres Negras, realizada em 2024, diversas demandas foram levantadas por mulheres negras de diferentes bairros da cidade. Entre as questões expressas estavam relatos de racismo, escassez de trabalho, precariedade no transporte público e a ausência ou baixa qualidade no atendimento das políticas públicas de saúde, assistência social e educação — sobretudo diante das especificidades raciais.

Infelizmente, essas queixas não se restringem a Rio Preto. São demandas que assolam mulheres negras no Brasil e na América Latina, por inteira.

Diante desse estado de coisas, do qual, como disse Lélia, nunca saímos, resta-nos a pergunta: o que ainda podemos fazer? Acreditamos que é possível — e necessário — fazer muito. Como disse Angela Davis, “quando uma mulher negra se movimenta, toda a sociedade se move com ela”.

Nossa força coletiva tem potencial para promover reparações históricas e construir caminhos de bem-viver. Nesse sentido, mulheres de todo o Brasil se mobilizarão, pelo 10º ano consecutivo, em Brasília, para a Marcha Nacional das Mulheres Negras. Lá, levarão suas demandas urgentes: o fim do genocídio de seus filhos, políticas públicas efetivas, dignidade, emprego, oportunidades, saúde mental e, principalmente, o direito à vida.

Embora a marcha nacional aconteça apenas em novembro, nossa organização territorial já está em curso. Ela antecede a própria marcha, pois é existencial — estamos em pé, vivas, lutando todos os dias.

Esse movimento, que nasce da experiência individual de sobrevivência, torna-se coletivo. Por isso, nos encontraremos na cidade de Rio Preto em alguns eventos: 11/07/2025 na Conferência de Mulheres; em 18/07, no Seminário Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver; e em 19/07, na 3ª Marcha das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas.

Seguimos, com passos firmes, por reparação e o bem-viver!

Thainá da Silva Costa

Psicóloga e gestora no Conselho Regional de Psicologia da Subsede de São José do Rio Preto