Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2025
Esses conhecimentos mudaram o espectro de abordagem e cura de doenças autoimunes

O Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2025 foi outorgado a Shimon Sakaguchi, Mary Brunkow e Fred Ramsdell. A outorga foi devida às pesquisas na área de autoimunidade e da tolerância imunológica, que investigam como se comportam os mecanismos de defesa do organismo nas doenças autoimunes e nos transplantes de células-tronco hematopoiéticas, também conhecidos como transplante de medula óssea.
Nos mecanismos de defesa do organismo, a principal célula que circula por todo o sangue são os linfócitos. Existem diversos subtipos, e um deles é o linfócito do tipo T, pela sua relação com o timo, um pequeno órgão que se encontra atrás do esterno em todas as pessoas. Os linfócitos T recebem sinalização de agressores externos e se multiplicam para destruí-los; ao final, devem desaparecer após cumprirem essa função. No entanto, às vezes podem continuar a existir e procurar alvos que podem ser as próprias células, causando a autoimunidade, ou seja, as doenças autoimunes.
As doenças autoimunes catalogadas são mais de 80 e são consideradas importantes pelo espectro clínico grave, como a esclerose múltipla, que afeta o sistema nervoso; a esclerose sistêmica, que afeta tecidos variados como a pele e órgãos internos; a doença de Crohn, em que o aparelho digestivo é mais afetado; e o lúpus eritematoso sistêmico, que é uma doença que afeta todo o organismo.
Para ocorrer o controle e a regulação da função descrita, o organismo lança mão dos linfócitos T reguladores (Tregs). Eles estão descritos desde a década de 70 e são o principal foco dos trabalhos desenvolvidos por Shimon Sakaguchi, que investiga as doenças autoimunes, o câncer e o transplante de células-tronco. O controle das células Tregs é genético e se faz pelo gene FOXP3, com estudos experimentais descritos desde 2001. Os pesquisadores principais nesses estudos foram Mary Brunkow e Fred Ramsdell.
Esses conhecimentos, juntamente com o surgimento do transplante de células-tronco hematopoiéticas desde a década de 60, mudaram o espectro de abordagem, controle e cura de diversas doenças autoimunes, neoplásicas da área do sangue e de doenças hereditárias, o que faz com que a prática médica as considere ainda como a única possibilidade de cura para essas doenças. Esse dado fez com que E. Donall Thomas recebesse o Nobel de 1990. Agora, 35 anos após o prêmio Nobel, corrobora-se a importância dos conhecimentos sobre autoimunidade e tolerância imunológica, que são a base de toda a evolução que tem ocorrido com a terapia celular.
Milton Artur Ruiz
Médico, coordenador da Unidade de TMO e Terapia Celular do Hospital Infante Dom Henrique da Associação Portuguesa de Beneficência de Rio Preto.