Quem cuida da mãe que cuida?
Pensar a saúde mental das mães solo é também falar sobre justiça social

Setembro é o mês de prevenção ao suicídio e de reflexão sobre saúde mental. Mas, quando olhamos para as mães solo, percebemos um cenário ainda mais desafiador. São mulheres que sustentam lares sozinhas, acumulando jornadas de trabalho, responsabilidades domésticas e o cuidado integral dos filhos. Essa sobrecarga, somada à ausência de apoio do Estado e da sociedade, tem impacto profundo sobre sua saúde psíquica.
No Brasil, mais de 11 milhões de mulheres criam seus filhos sem a presença paterna. Muitas enfrentam empregos precários, falta de rede de apoio e discriminação no mercado de trabalho. Entre conciliar sustento e maternidade, sobra pouco espaço para o autocuidado.
O cansaço crônico, a solidão e a pressão financeira formam um caldo de cultivo para ansiedade, depressão e burnout. Em casos extremos, podem surgir pensamentos suicidas.
A Constituição Federal assegura o direito à dignidade da pessoa humana, à saúde e à proteção da maternidade. A Consolidação das Leis do Trabalho prevê garantias específicas para gestantes e mães. No entanto, essas normas raramente são suficientes para a realidade das mães solo, que precisam de políticas públicas eficazes: creches acessíveis, assistência psicológica, proteção contra demissões discriminatórias e programas de inclusão no mercado de trabalho.
Pensar a saúde mental das mães solo é também falar sobre justiça social. Essas mulheres, muitas vezes negras e periféricas, carregam não apenas o peso da maternidade isolada, mas também os efeitos do racismo estrutural e da desigualdade econômica. A invisibilidade de suas demandas revela uma falha coletiva de cuidado.
O Setembro Amarelo nos lembra que prevenir o suicídio é compromisso de todos. No caso das mães solo, isso passa por enxergá-las, criar redes de apoio e cobrar do Estado e das instituições o cumprimento de seus deveres. Cuidar da saúde mental de quem cuida é garantir que a vida dessas mulheres e de seus filhos seja protegida com dignidade.
Lívia Maria de Carvalho
Advogada e Palestrante. Especialista em Direito e Processo do Trabalho. Membra do Coletivo Mulheres na Política