Diário da Região
ARTIGO

República de bananas

“República de bananas” é o país que tem a política interna ditada por interesses estrangeiros

por João Francisco Neto
Publicado há 20 horasAtualizado há 8 horas
Diário da Região
Diário da Região
Ouvir matéria

De tempos em tempos, lemos na imprensa artigos que, de forma jocosa, referem-se a alguns países que seriam verdadeiras “repúblicas de bananas”. Trata-se de expressão utilizada por jornalistas e analistas políticos para designar aqueles países politicamente instáveis, em que golpes de Estado, rebeliões populares, assassinatos de presidentes e ditaduras são comuns. Em geral, são países da América Latina e do Caribe. A origem da expressão “república de bananas” é atribuída ao escritor norte-americano O. Henry (1862-1910), que, num de seus livros, conta a história de “uma pequena república bananeira”, onde camponeses são explorados por um governo submisso e corrompido por empresas multinacionais instaladas no país.

Presume-se que Honduras teria sido um dos primeiros países a receber essa denominação, já que o criador da expressão, O.Henry, viveu lá por vários anos. Outro dos primeiros países a serem chamados de “república das bananas” foi El Salvador. Com o tempo, o termo “república das bananas” se ampliou para referir-se a vários países latino-americanos e caribenhos. Nessa região, entre o final do século 19 e o princípio do 20, havia mais de 20 empresas multinacionais, a maioria norte-americana, que lá se instalaram para cultivar e exportar frutas tropicais - principalmente a banana. Exploravam a mão-de-obra local, a quem negavam direitos trabalhistas básicos, e corrompiam autoridades, por meio de favores e dinheiro.

A maior dessas companhias era a empresa “United Fruits Company”, que era dona de enormes quantidades de terras. Pelo seu tamanho e poder econômico, controlava não só bananas, mas ferrovias, navios e mantinha ingerência em governos e nos rumos dos países, além de trânsito livre em Washington. Seus fundadores praticamente apresentaram a banana aos Estados Unidos. Na Guatemala, da década de 1950, quando o presidente do país, então de esquerda, tentou dividir as terras da empresa, a United Fruit usou sua influência em Washington para pressionar a Casa Branca a apoiar um golpe e derrubar o presidente. A companhia foi uma das pioneiras em marketing, sobretudo com a marca "Chiquita Banana", usada pela primeira vez em 1944, com anúncios inspirados em Carmen Miranda. O Brasil, ainda que produtor de bananas, não era necessariamente identificado com as tais “repúblicas bananeiras”.

Atualmente as coisas mudaram, ou seja, em resumo, “república de bananas” é todo país que tem a sua política interna ditada por interesses estrangeiros. E não são poucos os que se encaixam nessa situação. Mas agora as bananas não são o principal produto enviado para os Estados Unidos. Grande parte das drogas consumidas nos Estados Unidos provém de países que deixaram de ser uma “república de bananas” para se tornar algo pior.

João Francisco Neto

Advogado, doutor em Direito Econômico e Financeiro (USP). Monte Aprazível-SP.