Diário da Região
RADAR ECONÔMICO

Rio Preto mostra sinais de fôlego no mercado imobiliário

O estoque de 10.858 unidades mantém relativa folga, mas pode se tornar um ponto de atenção caso o ritmo de lançamentos continue em queda. A oferta precisa de renovação para não comprometer a diversidade de produtos no médio prazo

por Thiago Ribeiro
Publicado em 16/09/2025 às 20:49Atualizado em 17/09/2025 às 09:41
Thiago Ribeiro (Thiago Ribeiro)
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Thiago Ribeiro (Thiago Ribeiro)
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Os números divulgados pelo Secovi-SP, dia 11 de setembro, em parceria com a Brain Inteligência Estratégica, deixam uma dualidade evidente. O 2º trimestre de 2025 mostram que São José do Rio Preto vive um momento peculiar no mercado imobiliário. As vendas alcançaram 1.847 unidades, um salto expressivo de 73,6% em relação ao mesmo período de 2024 e 51,5% acima do 1º trimestre deste ano. Esse desempenho chama atenção porque se dá em um cenário macroeconômico desafiador, marcado por juros elevados e crédito mais restrito.

Mas a outra face do mercado aparece quando olhamos os lançamentos. Foram apenas 796 unidades no trimestre, uma queda de 17,5% em relação a 2024 e de 37,1% frente ao início do ano. O recuo é nítido: as incorporadoras parecem adotar postura cautelosa, evitando ampliar a exposição em um ambiente de incertezas e custos altos de financiamento. Essa diferença entre vendas em alta e lançamentos em baixa sugere que a demanda reprimida encontra algum espaço para se manifestar, enquanto a oferta se retrai.

O estoque de 10.858 unidades mantém relativa folga, mas pode se tornar um ponto de atenção caso o ritmo de lançamentos continue em queda. A oferta precisa de renovação para não comprometer a diversidade de produtos no médio prazo. Ainda assim, o desempenho recente indica que o mercado local tem apetite comprador, e a velocidade de vendas deve ser acompanhada de perto.

Um fator crucial para o entendimento desse cenário é a participação do programa Minha Casa Minha Vida. 34,2% das unidades lançadas (272) e 57,6% das unidades vendidas (1.063) foram destinadas a esse segmento. A alta representatividade do MCMV nas vendas sublinha a importância das políticas de habitação popular para o aquecimento do mercado imobiliário, atendendo a uma parcela significativa da população e impulsionando o volume de transações.

Diante desse cenário, é possível enxergar a cidade como um retrato em miniatura do mercado nacional. Combina forte dinamismo regional, atraindo investidores e moradores, com as mesmas travas macroeconômicas que afetam o País: juros altos, crédito mais caro e custo elevado de produção.

A leitura é de que a performance positiva das vendas demonstra confiança no potencial da cidade e na solidez de sua economia local. Mas a queda dos lançamentos acende uma luz amarela. Se não houver retomada da oferta, o risco é de desequilíbrio entre procura e disponibilidade de imóveis, com impacto direto nos preços e na acessibilidade habitacional.

O desafio, portanto, é encontrar um ponto de convergência. Se por um lado as vendas mostram otimismo, por outro o consumidor exige condições mais acessíveis e produtos mais ajustados ao bolso e às expectativas. Cabe ao setor privado calibrar sua disposição de investir e, ao poder público, criar condições mais favoráveis de crédito e desburocratização. Só assim Rio Preto poderá sustentar o bom momento de vendas sem comprometer o futuro do mercado.

Thiago Ribeiro

Diretor-regional do Secovi em Rio Preto