Diário da Região
ARTIGO

Sobre adultização de crianças

Boa parte dos pais afrouxam os limites da exposição por considerar a “monetização”

por Hugo Ramón Barbosa Oddone
Publicado em 25/08/2025 às 19:05Atualizado em 26/08/2025 às 09:53
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O influenciador Felca fez denúncia em suas redes sociais sobre a “adultização de crianças”, o que gerou uma verdadeira comoção nos lares brasileiros. A apresentação feita em tom sereno, com finalidade didática para qualquer cidadão, principalmente para pais e mães, visa trazer a público um tema há muito questionado e tem gerado muita polêmica quando determinados grupos, por um lado, defendiam esse tipo de exposição como “liberdade de expressão”; e, por outro, quando boa parte das famílias, ou pais, não consideravam essa exposição tão séria ou prejudicial para seus filhos ou filhas.

Aborda uma questão delicada que é a criança como objeto de desejo do adulto. Isso é pernicioso. A criança não tem crítica. O adulto se aproveita disto e busca se satisfazer com a imagem da criança. As crianças não sabem disso.

Adultização das crianças significa basicamente que se transforma a criança em adulto, vestindo roupas que não são próprias e nem do seu tamanho, como apressando seu amadurecimento. É como dar um alimento indigerível, tóxico, que não alimenta. Busca-se tornar a criança atraente, mais erotizada do que o próprio adulto. Oferece-se uma protovivência, inadequada, sexual, sem autorização dela, uma permissão que ela não tem como dar.

Essa protovivência é quase 100% certa que seja vivenciada pela criança como uma experiencia afetiva e não sexual. Daí a seriedade e a coragem com as quais Felca traz esta questão para todos nós, como povo, como cultura, como civilização que não suporta este desvio.

Obviamente, boa parte destes pais afrouxam os limites dessa exposição por considerar o aspecto “monetização” destes vídeos, fotos transmissões ao vivo com participação de menores, interessada em faturar com essa atividade, sem considerar os aspectos legais que proíbem essa exposição assim como outros aspectos, como os psicológicos, que podem levar a abusos e outras possibilidades de traumas a esses menores.

Esta denúncia está trazendo à tona a necessidade de criminalizar a adultização digital, assim como a determinação clara de regras para a atuação artística de crianças e adolescentes no meio digital, a responsabilização de pais e responsáveis. Isso transita também pelo reconhecimento desta adultização como forma clara de violência psicológica.

Isso exige de nós, profissionais da saúde, uma atualização de conhecimentos, já que se abre para todos, os menores, os pais, escolas e também para os profissionais educacionais tomar atitudes coerentes com a ética do cuidado das nossas infâncias e famílias.

Hugo Ramón Barbosa Oddone

Psicólogo