Tempestade de areia na primavera
Esse fenômeno tem se repetido no início da primavera, antecedendo as primeiras chuvas

Havia muita expectativa com a chegada da primavera. Na segunda-feira, 22, início da primavera, as modelagens meteorológicas previam 90% de chance de chuvas de até 49 mm em São José do Rio Preto e ventos fortes de até 75 quilômetros por hora. Em setembro são esperados 41 mm de chuvas acumuladas, mas, até essa segunda-Feira, não havia registros de precipitações. Desde o dia 28 de agosto não tínhamos chuvas.
Por volta das 13h30, duas intensas massas de ar frio, com temperatura de -65 ºC, aproximaram-se da área urbana de Rio Preto. Houve choque térmico. O ar quente e seco estacionado subiu para os níveis mais elevados da atmosfera. Simultaneamente, o ar frio desceu em direção ao solo. Essa movimentação de ar quente subindo e ar frio descendo gerou ventos fortes na forma de um turbilhão, uma espécie de rolo, capaz de levantar a argila seca e as cinzas depositadas sobre o solo.
Esse fenômeno é conhecido como tempestade de areia e nos últimos anos tem se repetido no início da primavera, antecedendo as primeiras chuvas. A areia é partícula grossa que rapidamente se sedimenta, mas traz muitos incômodos à população que precisa gastar mais água na limpeza das residências, justamente quando os mananciais estão baixos.
No bairr o Eldorado, a concentração máxima horária de material particulado grosso atingiu 357 microgramas de MP10/m³, nove vezes mais que o aceitável pela Organização Mundial da Saúde – OMS (45 microgramas de MP10/m³ de ar, média de 24 horas). O horizonte da cidade ficou alaranjado, tomado por poeiras.
Às 14h, o aeroporto Eribelto Manoel Reino operava em alerta amarelo com visibilidade reduzida para 1.800 metros (quando o normal é acima de 10.000 metros), e a velocidade média dos ventos permanecia em 30 km/h. Às 14h35, as imagens dos satélites mostravam a movimentação de duas intensas massas de ar frio próximas à área urbana, com tendência de se sobreporem e provocar chuvas mais volumosas até o final da tarde de segunda-feira.
Até as 14h30, os pluviômetros do Cemaden - Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais - registravam 10 mm de chuvas acumuladas (dez litros de água por metro quadrado), insuficientes para recompor a umidade do solo. Mas a expectativa era de chuvas mais volumosas até o final do dia, quando então a estiagem, as queimadas e a má qualidade do ar deram uma trégua para 1,8 milhões de pessoas que vivem no Noroeste paulista.
José Mário Ferreira de Andrade
Engenheiro civil e sanitarista.