Diário da Região
ARTIGO

Território-Mulher

Quantas vezes sufocamos sonhos em nome de demandas que nunca terminam?

por Jéssica Christan Silva e Soares
Publicado em 26/09/2025 às 20:13Atualizado em 27/09/2025 às 11:59
Jéssica Christan Silva e Soares (Divulgação)
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Jéssica Christan Silva e Soares (Divulgação)
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Há um esforço silencioso, mas imenso, que nós, mulheres, fazemos todos os dias: o de construir e afirmar nosso Território-Mulher. Um território que não se limita aos papéis que exercemos — mãe, filha, companheira, profissional, cuidadora. Esses lugares também nos pertencem, mas não esgotam quem somos. O Território-Mulher é a marca da nossa existência para além das funções, é o espaço íntimo e sagrado onde lembramos que somos inteiras.

É um gesto de coragem erguer esse território. Coragem porque ele não é dado, ele é conquistado. Quando dizemos “eu existo para além do que faço por vocês”, estamos reivindicando o direito de sermos vistas como presença plena, e não apenas como serviço. O Território-Mulher não se ergue contra ninguém, mas a favor de nós mesmas. É a lembrança de que não somos apenas as nossas entregas, mas também nossos silêncios, buscas e desejos.

O mundo, no entanto, insiste em nos empurrar para moldes estreitos. Quantas vezes sentimos culpa por desejar algo que não se encaixa no roteiro esperado? Quantas vezes sufocamos sonhos em nome de demandas que nunca terminam? E mesmo assim, seguimos. Criamos brechas. Inauguramos pequenas resistências cotidianas: um livro lido no intervalo, uma palavra escrita na madrugada, um pensamento que guardamos como quem protege uma chama.

Esse esforço não é pequeno. Ele é o que nos garante presença em nossa própria vida. Se não defendermos o Território-Mulher, corremos o risco de sermos engolidas por tudo que nos exigem. Quando o construímos, ainda que em pequenas porções, abrimos nele uma clareira de existência. Um lugar onde não precisamos desempenhar nada além de sermos nós mesmas.

Talvez nunca seja simples. Talvez o Território-Mulher precise ser defendido todos os dias, como quem protege algo sagrado. Mas é isso mesmo: sagrado. Nossa existência inteira merece ser reconhecida, celebrada e cuidada. É nesse território que nos reencontramos, que lembramos quem somos e sustentamos o fio que nos liga à vida.

O Território-Mulher é mais do que sobrevivência: é um chamado à vida verdadeira. E, ainda que o mundo tente nos reduzir, seguimos ampliando esse espaço com passos firmes e delicados, até que caibamos inteiras dentro dele.

Jéssica Christan Silva e Soares

Mãe, advogada, empreendedora. Membra do Coletivo Mulheres na Política de São José do Rio Preto - SP.