Diário da Região
EDITORIAL

O poder que emana

O mínimo que se espera de uma administração decente é transparência e honestidade, mas o que se viu do governo Fábio Candido foi exatamente o oposto

por Da Redação
Publicado em 20/09/2025 às 17:33Atualizado em 21/09/2025 às 11:59
Editorial (Reprodução)
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A reação popular que enterrou o nefasto projeto do IPTU em Rio Preto deixou claro que o parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal, segundo o qual todo o poder emana do povo, não é mera figura de linguagem. A força implacável dos mais diversos segmentos da sociedade rio-pretense - seja por meio da imprensa, de ofícios, pela abordagem a vereadores ou até mesmo via redes sociais - provou ao prefeito Coronel Fábio Candido (PL) que não se pode governar um município de 500 mil habitantes na base da quartelada.

A derrocada dessa proposta obtusa começou com reportagem exclusiva deste Diário, que em 7 de setembro, após ouvir especialistas em direito tributário, revelou aquilo que o governo municipal tentava esconder: reajustes de IPTU que ultrapassavam os 200% em alguns bairros.

O desespero bateu na administração que, alinhada à sua base de sustentação na Câmara, tentou aprovar o aumento a toque de caixa, com apenas uma semana de tramitação legislativa — algo praticamente inédito. Não deu certo: a atuação de vereadores de oposição impediu a votação goela abaixo que o Coronel tanto desejava.

O mínimo que se espera de uma administração municipal decente é transparência e honestidade, mas o que se viu do governo Fábio Candido foi exatamente o oposto: ataques virulentos e narrativas enviesadas contra quem ousasse criticar o projeto. Nas redes sociais, o prefeito e seus apaniguados passaram a classificar como “fake news” qualquer informação que apenas revelava a verdade sobre o aumento.

O tiro final nessa insensatez partiu da própria Prefeitura quando, na ânsia de criar sua versão dos fatos, lançou um simulador que permitiu a cada rio-pretense comprovar o que este Diário apontou em 7 de setembro: o projeto traria um aumento escorchante que sangraria diretamente o bolso de milhares de rio-pretenses. O episódio só prova, aliás, que o governo municipal precisa aprender a se comunicar no seu próprio vernáculo antes de apelar a estrangeirismos como “fake news” para tentar sustentar uma narrativa deturpada.

Que ninguém se iluda: a retirada do projeto do IPTU não representa um pingo de sensatez de um governo que percebeu o mal que causaria à população. O recuo do Coronel só ocorreu quando vereadores de sua própria base aliada - muito mais sensíveis às demandas da população - anunciaram que não votariam a favor da proposta. Não fosse a recusa desses parlamentares, o prefeito não estaria nem um pouco preocupado com a real opinião do povo que jurou servir ao assumir o comando do município.

A mobilização popular ainda é necessária, já que o prefeito afirmou que apresentará um novo projeto do IPTU - e sabe-se lá o que vem pela frente. Que, em vez de decidir no conforto do ar-condicionado e vidrado nas telas das redes sociais, o Coronel tenha a coragem de discutir essa mudança olhando no olho da população e convocando setores representativos da sociedade civil organizada para dar transparência aos seus atos.

No mais, este Diário não se curvará diante de ameaças, perseguições, abusos e mentiras do prefeito de plantão e seus asseclas. São 75 anos de história servindo o interesse público, prezando sua independência de grupos políticos ou econômicos e tendo como pilares a democracia, as liberdades individuais, a livre iniciativa e o desenvolvimento econômico e social de Rio Preto e região.

O poder não emana do gabinete, nem das redes sociais, mas do povo rio-pretense. Oito meses e 20 dias de mandato deveriam ter sido suficientes para o Coronel aprender que não está mais no quartel, e que será sempre o povo a decidir os rumos da cidade.