Exposição exagerada de crianças nas redes sociais
Felca, conhecido por seu conteúdo crítico e reflexivo sobre a cultura digital, denunciou conteúdos que expõem crianças a situações de risco de pedofilia e danos à imagem

Em um mundo cada vez mais conectado, as redes sociais tornaram-se espaços de expressão, entretenimento e até mesmo de “ganha-pão” para famílias inteiras. Contudo, o fenômeno da exposição excessiva de crianças a conteúdos, comportamentos e dinâmicas típicos da vida adulta — tem gerado preocupação crescente entre psicólogos, pediatras e especialistas em direitos da infância. Recentemente, o youtuber Felca trouxe à tona esse debate com uma denúncia impactante que ecoou em todo o Brasil.
Felca, conhecido por seu conteúdo crítico e reflexivo sobre a cultura digital, denunciou conteúdos que expõem crianças a situações de risco de pedofilia e danos à imagem.
O caso não é isolado: muitas crianças estão sendo submetidas a um ambiente virtual que desafia seus limites emocionais e cognitivos, antes mesmo de desenvolverem ferramentas para lidar com essas experiências.
A adultização e a exposição excessiva das crianças pode ter consequências profundas no desenvolvimento emocional, social e psicológico do menor. Estudos mostram que crianças hiper expostas em redes sociais apresentam maior risco de ansiedade, baixa autoestima, distúrbios do sono e até dificuldades na formação de identidade saudável. Além disso, a constante busca por atenção e validação nas redes sociais pode levar ao desenvolvimento de uma espécie de “dependência digital”, reduzindo o tempo dedicado a vínculos afetivos reais, brincadeiras espontâneas, interações e sonhos infantis.
O caso denunciado por Felca ressalta ainda uma realidade alarmante: muitos pais, em busca de visibilidade ou renda, transformam seus filhos em "produtos digitais". Filmes exagerados, desafios, humor provocativo e até situações constrangedoras são montados para atrair cliques.
Nesse processo, a infância é sacrificada em nome do lucro ou da carência/visibilidade dos adultos, com a criança deixando de ser apenas uma criança — com direito à inocência, curiosidade e crescimento natural — para se tornar uma “mercadoria de audiência” e de likes.
Além dos danos psicológicos, há riscos legais e éticos. A exploração comercial de crianças em plataformas digitais pode configurar violação de direitos humanos, especialmente quando envolve publicidade, promoção de produtos ou compartilhamento de dados pessoais sem consentimento informado.
Pior, a exposição e envolvimento em situações que possam denotar exploração sexual (cada dia mais potencializada pelo avanço de criação de conteúdos por Inteligência Artificial) mostra a necessidade de debate sobre o tema, investimento em conscientização e de proteção dos menores de idade contra o excesso de exposição.
É fundamental que pais, educadores e a sociedade como um todo repensem suas práticas digitais. Não se trata de banir as crianças das redes sociais — elas podem ser ferramentas valiosas para aprendizado e conexão —, mas sim de criar limites claros, promovendo uma mídia infantil segura e consciente, e exigir responsabilidade das plataformas e, principalmente, dos responsáveis pelas crianças.
Diante disso, urge a adoção de políticas públicas de educação digital nas escolas e campanhas de conscientização. A infância é um período precioso, frágil e irrepetível. Não podemos permitir que ela seja diluída pela carência e ganância de adultos que priorizam o engajamento em redes sociais em detrimento do desenvolvimento humano.
O chamado de Felca vai além de um alerta: é um convite à reflexão coletiva. Proteger a infância não é resistir à tecnologia, mas garantir que ela sirva ao bem-estar da criança, não à gratificação de adultos.
Marco Feitosa
Advogado e coordenador do Estado de São Paulo do Movimento Livres