Os custos políticos de estratégias radicais
Enquanto líderes pragmáticos ajustam suas posturas conforme as circunstâncias práticas, figuras radicais como Gleisi Hoffmann e Eduardo Bolsonaro insistem em uma estratégia política calcada na polarização extrema

Nas últimas semanas, o cenário internacional testemunhou um movimento inesperado: a aproximação diplomática entre os presidentes Donald Trump e Lula. Embora ainda incipiente, esse gesto simbólico, marcado por conversas cordiais e declarações públicas de reciprocidade positiva, representa um exemplo clássico de realpolitik: a política guiada por interesses práticos e não por ideologias rígidas.
Enquanto líderes pragmáticos ajustam suas posturas conforme as circunstâncias práticas, figuras radicais como Gleisi Hoffmann e Eduardo Bolsonaro insistem em uma estratégia política calcada na polarização extrema, com consequências cada vez mais negativas.
Se de um lado figuras de esquerda como Gleisi vociferam contra o presidente americano, Eduardo Bolsonaro tem sido um dos principais porta-vozes da ala mais radical da direita brasileira. Suas atuações, marcadas por ataques virulentos e alinhamento incondicional a discursos questionáveis (inclusive contra seus próprios campos políticos), pensada como forma de consolidar uma base fiel e mobilizada, revela-se frágil diante da evolução natural da política: a necessidade de governabilidade, diálogo e adaptação.
A inesperada aproximação entre Trump e Lula, dois ícones antagônicos em seus respectivos espectros ideológicos, ilustra com clareza como a realpolitik suplanta a radicalização. Embora ambos continuem cultivando uma retórica populista, demonstram pragmatismo ao buscar alianças que fortaleçam sua posição política internacional e também interna.
Por outro lado, políticos como Eduardo Bolsonaro e Gleisi Hoffmann, ao contrário, são reféns de uma lógica binária e obsoleta: o nós contra eles. Essa postura alienante, que transforma divergências políticas em guerras existenciais, já começa a mostrar seus limites.
Enquanto as principais lideranças constroem alianças (mesmo que mantendo suas hipócritas condutas populistas), os radicais (também populistas) insistem em erguer muros. O resultado? Isolamento político crescente, perda de influência institucional e dificuldade em articular agendas concretas, mesmo dentro de suas bases. Essa retórica inflamada, antes vista como corajosa por parte do eleitorado, agora soa como ruído em um momento que exige propostas.
A história política moderna é pródiga em exemplos de como a radicalização, por mais que mobilize no curto prazo, acaba marginalizada quando o jogo real do poder exige negociação. Em todo o mundo, líderes que se recusam a transitar além das fronteiras ideológicas raramente sobrevivem ao longo prazo. A política não é um campo de batalha moral, mas um espaço de construção coletiva, e quem insiste em vê-la como guerra ideológica acaba derrotado pela própria realidade.
No atual contexto, em que o mundo busca estabilidade após crises sanitárias, econômicas e climáticas, a estratégia dos radicais revela-se não apenas ineficaz, mas contraproducente.
Ao rifar possíveis aliados, desprezar o diálogo e manter-se refém de uma narrativa de confronto perpétuo, ela contribui para o esvaziamento político dos seus atores. Enquanto isso, a dupla Lula e Trump demonstram, cada um à sua maneira, que a verdadeira força política está na capacidade de se adaptar sem perder a essência (mesmo que essa essência seja questionável).
Em última análise, a lição é clara: a radicalização ideológica é um beco sem saída. Na arena da realpolitik, vencem não os mais barulhentos, mas os mais hábeis em construir consensos. E, nesse jogo, os radicais (que nem de longe são santos) estão perdendo terreno e relevância a cada dia por insistir em confundir política com guerra santa.
Marco Feitosa
Advogado e coordenador do Estado de São Paulo do Movimento Livres