Quando os mortos vêm nos visitar
O que realizam quando pessoas queridas vêm nos visitar? Uma grande festa! Um altar colorido é construído nas residências, com fotografias das pessoas queridas, frutas e os pratos preferidos das mesmas

Na semana que passou, tivemos o Dia de Todos os Santos e Santas e o Finados. Honrar os que se foram e tornaram-se intercessores na religião católica, no primeiro caso; e aqueles amigos, parentes, ídolos que estão no andar de cima, faz parte de uma semana de muita reflexão e saudade. O culto aos mortos ocorre em todas as culturas. Estive recentemente na Cidade do México e entendi melhor o que é o famoso Dia de “Los Muertos”, naquela civilização onde acreditam que as almas podem voltar para estar perto dos seus neste dia. Portanto, o que realizam quando pessoas queridas vêm nos visitar? Uma grande festa! Um altar colorido é construído nas residências, com fotografias das pessoas queridas, frutas e os pratos preferidos das mesmas. Um pão especial chamado “pan de muerto” também é servido. Doces em formato de caveiras decoram a mesa, deixando-a bem colorida. Flores são espalhadas pela cidade inteira! Destaca-se a “cempasúchil”, um tipo de cravo cor de laranja-fogo que, segundo a tradição asteca, guia as almas até a última morada.
Em meio a tudo isso, surgem as “Catrinas”, esqueletos que representam as damas da alta sociedade, com vestidos esvoaçantes, criadas como crítica social da população mexicana que, negando o sangue indígena que lhes corria nas veias, buscava na aparência europeia um reflexo de pertencimento perdido.
Os pets mexicanos também têm o seu dia, em 27 de outubro, com as mesmas regalias. Tudo isso ao som de muita música alegre e dança, até porque “Viva – A Vida é uma Festa”! E quem quer saber mais, sugiro assistir ao filme da Disney com o mesmo título...
Estava com essa energia desde que voltei do México e, ao chegar em São José do Rio Preto, consegui assistir ao excelente espetáculo “Rita Lee – Uma Autobiografia Musical”. Mel Lisboa, fantástica! E também todos os profissionais envolvidos nesta produção mostraram um trabalho impecável. A excelência de cada um, seja na atuação, direção, cenografia, figurino, iluminação ou produção, foi essencial para construir uma experiência artística tão rica e tocante para todos que assistiam. Chorei o tempo inteiro, não de tristeza! Mas sim de nostalgia e saudade gostosa, mesmo que os mexicanos me mostraram que existe.
Rita Lee e suas canções marcaram toda uma geração e todas as que vieram depois: “Levava uma vida sossegada / Gostava de sombra e água fresca...” Os momentos em que ela conheceu Roberto de Carvalho e seguiram apaixonados até os dias de hoje, mesmo com a separação neste plano. “Meu bem, você me dá água na boca...”. Uma curiosidade que pouca gente sabe é que, já no final da vida, Rita foi cuidada por uma médica nascida aqui em São José do Rio Preto: a Dra. Estelita. Inclusive, foi citada em seu livro autobiográfico.
O espírito de Rita estava presente neste final de semana de Finados em nossa amada cidade, fazendo a gente muito feliz, como ela mesma encerrou o espetáculo...
Os mexicanos têm razão: os mortos vêm nos visitar, nessas datas, trazendo as melhores alegrias, sempre que nós os celebramos.