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Sanae Takaichi: a Dama de Ferro de baquetas pesadas

por Fernando Fukassawa
Publicado em 27/10/2025 às 22:43Atualizado em 28/10/2025 às 09:30
Fernando Fukassawa (DIARIO)
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Ao se reunir com Sanae Takaichi, a nova primeira-ministra do Japão, Donald Trump encontrará uma mulher há muito tempo preparadíssima para o cargo. Formada em ciência política, foi comunicadora profissional na década de 1980, na qual embarcou como apresentadora de programas de variedades e notícias, chegando ao posto de âncora da TV Asahi Corporation. Tem familiaridade com os Estados Unidos, onde morou por três anos e foi bolsista do Congresso. Ao retornar, atuou como analista legislativa especializada em política norte-americana e escreveu livros sobre o tema, dentre eles... “Tudo sobre o poder do presidente americano” (1992).

Aos 32 anos, Takaichi ingressou na política ao ser eleita para a Dieta Nacional - o parlamento japonês. Ocupou cargos como ministra do Interior e Comunicações, e da Segurança Econômica, quando recebeu a alcunha de “Dama de Ferro”, não apenas pela rigidez e pelo estilo direto, mas também por ser fervorosa admiradora de Margaret Thatcher. Nacionalista convicta, é defensora de uma revisão da Constituição pacifista de 1947 e do rearmamento militar, ponto de aderência aos interesses de Trump. Discreta em temas internacionais, mantém firme a defesa de um Japão forte, independente e avesso a fluxos migratórios amplos.

É a primeira mulher a liderar o governo, mas igualdade de gênero não está no topo de suas prioridades. Chega ao poder com a serenidade de quem tem mais afinidade com a rigidez do aço do que com o perfume das flores. Opõe-se ao casamento entre pessoas de mesmo sexo, mas ressalta que não deve haver preconceito contra a orientação sexual ou identidade de gênero.

Nascida em 7 de março de 1961, Takaichi é descrita por numerólogos como introspectiva e disciplinada, dona de coragem silenciosa. Quando jovem, tinha notas suficientes para entrar nas principais universidades de Tóquio, mas sem recursos financeiros, viajava seis horas por dia em sua moto Kawasaki, de Nara a Kobe, para cursar Administração de Empresas. Foi professora de Economia na Universidade Kindai, em Osaka.

Dita conservadora, nem sempre pareceu assim: na juventude foi baterista de uma banda de heavy metal, fã de Iron Maiden, Deep Purple e Black Sabbath. Mantinha quatro pares de baquetas sobressalentes — precaução digna de quem não gosta de perder o compasso, nem no palco e nem na política. “Burn”, sua canção preferida para desestressar, descreve sua trajetória: arde, trabalha e queima até o limite. Nada de equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Confessadamente uma “workaholic” que prefere trabalhar em casa a sair e socializar, avisa: “Vou trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar e trabalhar um pouco mais", como se cada verbo fosse um golpe de baqueta no ritmo galopante do “The Trooper”.

De personalidade excêntrica, em 2004 ela “concordou” em se casar com Taku Yamamoto, seu colega parlamentar que, também licenciado como chefe de cozinha, lhe prometeu fazer comida deliciosa por toda a vida. Em 2017 se divorciaram, mas mesmo assim recebeu contínuo apoio do ex-marido que perdera a cadeira no Parlamento. Casaram-se novamente em dezembro de 2021.

"Ela se casou com o mesmo homem duas vezes; na primeira, ela adotou o sobrenome dele, e na segunda, ele adotou o dela", relata a imprensa. Como não tiveram filhos juntos, ela adotou os três filhos de Yamamoto de um casamento anterior. A Dama de Ferro em quimono cuida do marido que recentemente sofreu derrame cerebral e ficou com paralisia do lado direito do corpo, adicionalmente ao câncer diagnosticado no ano passado. E ele diz que segue apoiando a mulher...cozinhando para ela.

Como em “Heaven and Hell” de Black Sabbath: “Para cada momento de verdade, há confusão na vida/ O amor pode parecer ser a resposta / Mas ninguém sangra pelo dançarino”...Dizem que a vida é um carrossel girando rápido / você tem que saber montar”.

Entre baquetas pesadas e decretos, Sanae Takaichi segue na cadência do refrão duro, disciplinado, infernal. O “trumpet” de metal pode soprar a sonoridade, mas é a bateria que marca o ritmo.