Vamos meter a colher...
No dia 7 de dezembro ocorreu em todo o país o Movimento Levante Mulheres Vivas, inclusive em nossa cidade

Há pouco mais de dois anos utilizei este espaço para demonstrar a minha total indignação frente à violência contra as mulheres a partir do brutal assassinato da jovem médica Thallita da Cruz Fernandes pelo seu então namorado, Davi Izaque. O corpo foi encontrado dentro de uma mala.
Neste artigo afirmei que “nascer mulher no Brasil é fator de risco” e encerrei o mesmo desejando que esses atos contra as mulheres, que não respeitam idade, classe social, cultura (não esquecendo as trans) diminuíssem na nossa cidade e no país. Ledo engano.
A imprensa brasileira traz números impressionantes de pesquisa realizada pelo Instituto DataSenado, que entrevistou cerca de 22 mil brasileiras (21.641) neste ano. Cerca de 71% das violências são testemunhadas por alguém, sejam crianças ou adultos. O coordenador do Instituto DataSenado, Marcos Ruben de Oliveira, ressalta que grande parte dessas testemunhas são os próprios filhos da mulher agredida.
Outro dado chocante é que 40% das testemunhas adultas não tomam nenhuma atitude para ajudar no momento da agressão. Tudo isso acontece no momento em que a Central de Atendimento à Mulher, o famoso Ligue 180, completa 20 anos de funcionamento.
Não precisamos de pesquisa, só assistir aos telejornais ou acessar as redes sociais para nos depararmos com mulheres arremessadas por sacadas, arrastadas nas avenidas, não somente por seus maridos ou companheiros, mas também por seus “ficantes”, vítimas da percepção distorcida que estes homens (?) têm do pertencimento não só dos seus corpos como também de suas vidas.
No dia 7 de dezembro ocorreu em todo o país o Movimento Levante Mulheres Vivas em vários locais, inclusive em nossa cidade. O Brasil registrou mais de mil casos de feminicídios em 2025 e o ano ainda nem acabou.
Uma sugestão que veio à minha cabeça foi a lembrança da Campanha Natal sem Fome, fundada há 30 anos pelo sociólogo Betinho, que uniu o país por meio de comitês e redes de voluntários para que famílias em situação de vulnerabilidade tivessem o que comer nesta data.
Por que não criarmos comitês suprapartidários, nas igrejas, escolas, empresas e fábricas para discutir a questão da violência de gênero e promover ações afirmativas e preventivas antes que mais uma mulher morra? Fazer a Lei Maria da Penha acontecer de fato?
Outro modelo de ação superpartidária foi a Campanha das Diretas Já: no mesmo palanque político, artistas e cidadãos comuns varreram o Brasil de cabo a rabo. Foi uma ação exitosa. Por que não?
Enquanto escrevo este artigo assisto às manifestações brasileiras contra a PEC da Blindagem e a anistia que ocorrem no Brasil. O povo está acordando e agora do lado certo da força (entendedores entenderão). Vamos aproveitar esta energia para também meter a colher, SIM, em briga de marido e mulher.
Regina Chueire
Médica, professora da Famerp e diretora do Lucy Montoro/Funfarme