Diário da Região
PAINEL DE IDEIAS

Arrogantes, egoístas e ignorantes

por Durval de Noronha Goyos Jr.
Publicado em 07/10/2025 às 20:26Atualizado há 15 horas
Durval de Noronha Goyos Jr. (Durval de Noronha Goyos Jr.)
Galeria
Durval de Noronha Goyos Jr. (Durval de Noronha Goyos Jr.)
Ouvir matéria

O notável pensador e escritor irlandês, Oscar Wilde, morto em 1900, observou com típica perspicácia que os EUA eram “um país que foi da barbárie à decadência sem passar pela civilização”. Ele escreveu “O Retrato de Dorian Gray” e “A Alma do Homem sob o Socialismo”. Nem mesmo o seu gênio pode antever fosse o declínio daquele Estado se acentuar nos próximos 125 anos e que a distância do humanismo se alargaria. De fato, o país passou do tráfico de ópio e das guerras de conquista para a posição execrável de destruidor da ordem jurídica internacional; instigador de crimes de guerra; patrono do racismo e da discriminação, para além de promotor da miséria global e do genocídio.

Após 2 guerras mundiais no início do século XX, o país se isolou gradativamente da comunidade internacional e dos valores humanísticos amplamente reconhecidos, ao ponto de ser o único país a votar contra a paz na Palestina no Conselho de Segurança da ONU. Hoje, a sustentação diplomática dos EUA é feita, com crescente relutância, por um número restrito de países na União Europeia, além de Japão e Coréia do Sul. Deles, no entanto, se afasta pelo irrefreável exercício arbitrário das próprias razões, mesmo contra os seus vassalos, submetendo-os a sanções tarifárias ilícitas na ordem jurídica internacional.

Na Europa, os EUA são idealizadores e beneficiários da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança militar de 1949, para além de manter cerca de 40 bases suas e 100 mil soldados próprios no continente. A OTAN é hoje anacrônica e objetiva primordialmente gerar encomendas de armamentos para o complexo industrial e militar estadunidense, o que gera uma prosperidade artificial e seletiva. A entidade drena para os EUA recursos europeus que poderiam ser destinados ao benefício social em áreas como saúde, educação e pesquisa.

Desde os tempos de Oscar Wilde, os cidadãos dos EUA passaram gradativamente a se deslocar para a Europa, trazendo consigo o germe da barbárie; da futilidade; da incultura; do egoísmo; do materialismo exacerbado; do militarismo; do fanatismo religioso; do racismo; da intolerância; da vaidade; da propaganda e do consumo de drogas. Já por volta de 1925, um núcleo de jornalistas estadunidenses ali se estabeleceu objetivando vender imagens fúteis e superficiais de sua enganosa percepção para um público doméstico sabidamente néscio, grosseiro e rude. Um desses foi F. Scott Fitzgerald, frívolo autor de “O Grande Gatsby”, quem apesar de ter ali vivido por alguns anos, não apreendeu nenhum idioma, sem ter sido um mestre no seu próprio.

Fitzgerald, todavia, influenciou seus compatriotas a visitarem o Velho Continente, em números crescentes. A sua indigência mental fez escola e repercute nas tecnologias atuais, como no seriado “Emily in Paris”, com os mesmos resultados. O perfil destes viajantes foi descrito por Eugene Burdick e William Lederer no livro “The Ugly American” de 1958, como exibicionistas, arrogantes, ruidosos, egoístas, insensíveis, ignorantes e etnocêntricos. Por serem aqueles da sua mesma nacionalidade, os autores foram parcimoniosos com os adjetivos. Consequentemente, os europeus encontram-se sitiados pelos constrangimentos orçamentários impostos pelo EUA e, de outro lado, pela funesta invasão dos bárbaros daquela nacionalidade. Reverberam nas almas europeias os progressivos sentimentos de “Americans go home”.

DURVAL DE NORONHA GOYOS JR.

Jurista e escritor polígrafo. Escreve quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras