Diário da Região
PAINEL DE IDEIAS

Com cinco ou seis retas

São 60 anos de carreira, incontáveis sucessos para diversos públicos, 71 discos, milhares de espetáculos e inúmeras histórias. É autor de uma vasta obra musical.

por Toufic Anbar Neto
Publicado em 16/09/2025 às 19:30Atualizado em 17/09/2025 às 09:42
Toufic Anbar Neto (Toufic Anbar Neto)
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Toquinho é paulistano e nasceu em 1946. Teve suas primeiras aulas de violão aos 14 anos. Passou por vários professores de harmonia, orquestração e violão clássico. O mais famoso foi Oscar de Castro Neves, maestro que divulgou a Bossa Nova internacionalmente e trabalhou com cantores do calibre de Stevie Wonder e Michael Jackson.

Desde os 18 anos faz apresentações, sendo que, conforme consta na própria página eletrônica do artista, o seu primeiro show foi em São José do Rio Preto, levado por seu professor, Paulinho Nogueira. Depois, musicou peças de teatro, fez arranjos para inúmeras músicas, compôs canções. Gravou seu primeiro compacto em 1965, em parceria com Elis Regina. Seu primeiro sucesso foi uma canção em parceria com Jorge Ben Jor, em 1970, “Que maravilha” (... lá fora está chovendo, mas assim mesmo eu vou correndo só pra ver, o meu amor...).

Ainda em 1970, iniciou sua parceria com Vinicius de Moraes (1913 – 1980), que durou 11 anos e rendeu clássicos da MPB. Destacam-se “Tarde em Itapoã”, “Samba de Orly”, “Regra Três”, “Para Viver um Grande Amor”, “A Tonga da Mironga do Kabuletê”, “Morena Flor”, “Pela Luz dos Olhos Seus”, “Como Dizia o Poeta”, “Sei Lá”. Com Vinícius, Toquinho também musicou o livro A Arca de Noé, que originou dois discos: “A Arca de Noé” (1980) e “A Arca de Noé 2” (1981), destinados ao público infantil. Fizeram muito sucesso.

Em 1983, Toquinho lançou “O Caderno”. Esta música simboliza a passagem do tempo, desde a infância até a vida adulta, a acumulação de memórias, aprendizados e experiências que nos moldam. O caderno funciona como um confidente e amigo, guardando desenhos, provas e até lágrimas, e o apelo final para não ser esquecido representa o desejo de que o passado e as lições aprendidas nunca sejam abandonados.

Neste mesmo ano, gravou seu maior sucesso: “Acquarello”. Foi a primeira vez que um cantor brasileiro ganhou um disco de ouro na Itália. Vertida para o português, “Aquarela”, repetiu o sucesso no Brasil. Ela aborda o ciclo da vida, a passagem do tempo e o valor da imaginação e dos pequenos momentos. A canção transita entre a inocência da infância, onde a criatividade transforma a realidade, e a realidade da vida adulta, marcada pela incerteza e pela inevitabilidade do fim. O ato de “descolorir” simboliza o desbotar da vida e das lembranças, o que nos convida a uma reflexão sobre a finitude.

São 60 anos de carreira, incontáveis sucessos para diversos públicos, 71 discos, milhares de espetáculos e inúmeras histórias. É autor de uma vasta obra musical. Aprendeu com os melhores. Exímio violonista, trabalhou com gigantes. Construiu parcerias inesquecíveis. Foi parceiro do maior poeta da MPB. Sem dúvida, com muitas retas, construiu um belo castelo na aquarela da vida.

TOUFIC ANBAR NETO

Médico-cirurgião, diretor da Faceres, escritor e membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Arlec). Escreve quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras