O efeito Cinderela
A Geração Z, que cresceu em meio a conscientização sobre saúde e bem-estar, tem revelado um comportamento que desafia as tradições noturnas

Nos últimos anos, boates e casas noturnas têm enfrentado um fenômeno inquietante: o seu desaparecimento. Aqueles locais que pulsavam ao ritmo de batidas eletrônicas, muita bebida e risadas altas estão se tornando cada vez mais raros. O que parece ser uma mudança de cenário não é apenas uma questão de espaço físico, mas um reflexo das novas preferências de uma geração que se despede da noite para abraçar a luz do dia.
A Geração Z, que cresceu em meio a conscientização sobre saúde e bem-estar, tem revelado um comportamento que desafia as tradições noturnas. Para eles, encontros com amigos falam mais sobre conexão do que sobre festa desenfreada. O que antes era sinônimo de baladas madrugada adentro agora se transforma em festas ao entardecer, onde a música toca, mas o relógio também tem seu papel. Como no conto de Cinderela, essa geração volta pra casa antes das doze badaladas noturnas.
A mudança é visível em cada esquina: cafés lotados em vez de pistas de dança, brunches animados em vez de afters. A Geração Z, em sua maioria, prefere um estilo de vida mais saudável, e isso se reflete em suas escolhas O consumo de bebidas alcoólicas, outrora um rito de iniciação quase obrigatório para os jovens, agora é abordado com cautela. Antes símbolo de liberdade e diversão, o álcool é cada vez mais deixado de lado em prol de opções mais leves ou até mesmo da abstinência. A consciência de que beber e dirigir se tornou um risco não apenas à segurança pessoal, mas também à liberdade de ir e vir, a legislação mais rígida e as campanhas de conscientização têm colocado pressão sobre os jovens, que, por sua vez, se adaptam a essa nova realidade.
O fenômeno, porém, não é isento de contradições. Em tempos em que o consumo de drogas parece estar em alta, há preocupação crescente com hábitos saudáveis. As academias estão cheias, a alimentação é mais consciente, mas surgem novas drogas sintéticas. É um paradoxo que nos leva a refletir: como uma geração tão consciente dos riscos pode também se aventurar por caminhos incertos? Há outras perguntas ainda não respondidas: essa mudança de hábito é passageira? Será que essa nova forma de ver a diversão se estabelecerá como norma entre os jovens? Ou estamos apenas diante de uma fase efêmera que logo retornará às tradições?
O futuro é incerto, mas algo parece claro: está sendo moldado um novo paradigma. O que se vê é uma transformação nas formas de interação social. As festas que antes eram sinônimo de excessos agora buscam um novo significado. A conexão, o riso e a celebração da vida estão se adaptando à luz do dia, onde a saúde e o bem-estar são protagonistas. Assim, enquanto o silêncio das boates ecoa, novas formas de baladas surgem, com mais conforto e menos riscos. A definição sobre a permanência dessas mudanças ainda está por vir. Contudo, uma coisa é certa: a Geração Z está escrevendo uma nova história, onde a noite não é mais o único palco para a diversão.
SÉRGIO CLEMENTINO
Promotor de Justiça em Rio Preto. Escreve quinzenalmente neste espaço às terças-feiras