80 anos da bomba
Na Europa, teme-se a escalada do conflito da Ucrânia com a Rússia e o temor do uso de bombas nucleares. O mundo podia passar sem essa!

Há 80 anos, os Estados Unidos jogaram duas bombas atômicas, uma na cidade de Hiroshima, matando 140 mil pessoas; e três dias depois, outra na cidade de Nagasaki, matando 74 mil habitantes. Nunca tinha acontecido antes. Só em testes. Ambas as cidades tinham suas casas e construções feitas, em sua grande maioria, de madeira. Foram vaporizadas em segundos. Os dois eventos foram o ápice da segunda guerra mundial (1939 – 1945), principalmente após a entrada dos Estados Unidos na guerra, em decorrência do ataque do Japão à base militar de Pearl Harbour, em sete de dezembro de 1941.
O avião, um bombardeiro B-29 batizado de “Enola Gay”, o nome da mãe de um dos pilotos. Lançou a bomba a 9,5 quilômetros de altura, que explodiu a 600 metros do solo. A bomba atômica pesava 4.400 kg. Funcionava da seguinte maneira: ela trazia uma carga de 64 kg de urânio-235 dividida em dois blocos que se chocaram entre si e provocaram a explosão, pelo mecanismo da fissão nuclear.
A explosão teve uma força equivalente a 15 mil quilos de dinamite (TNT). Para os padrões atuais, era muito rústica. Para se ter uma ideia, dos 64 kg da carga de urânio-235, estima-se que “apenas” um quilo explodiu. Foi o suficiente para gerar uma onda de calor de 4.000 graus Celsius, que atingiu um raio de 4,5 quilômetros, matando de imediato metade das pessoas da área. Num raio de 8,7 quilômetros, praticamente todas as construções ruíram. A 11 quilômetros da explosão, as pessoas tiveram queimaduras de terceiro grau.
Hiroshima era um alvo prioritário. Além de ser uma importante cidade industrial, tinha uma base militar e não tinha sofrido bombardeios durante a guerra. Dias antes, os EUA tinham exigido a rendição do Japão. Mesmo com a explosão, o imperador Hirohito, não se rendeu. Três dias depois, os EUA decidiram lançar outra bomba. O alvo era a cidade industrial de Kokura. Mas como estava coberta de neblina, os pilotos foram orientados a procurar visualmente outro alvo. Assim, escolheram de forma aleatória, a cidade de Nagasaki. Uma bomba de 4.456 kg e seis quilos de plutônio, dos quais “apenas” um quilo explodiu. A explosão foi equivalente a 21 mil quilos de dinamite.
Após as duas explosões, o Japão se rendeu. O imperador se dirigiu ao povo conclamando a suportar o insuportável. Os defensores das bombas dizem que elas abreviaram a guerra e salvaram vidas. Seus opositores dizem que foi um dos atos mais imorais e desnecessários, matando vidas inocentes. Existem atualmente 12.300 ogivas nucleares no mundo. Seus detentores usam a teoria da dissuasão nuclear, a crença de que a ameaça de retaliação nuclear pode impedir ataques e manter a paz.
Na Europa, teme-se a escalada do conflito da Ucrânia com a Rússia e o temor do uso de bombas nucleares. O mundo podia passar sem essa!
TOUFIC ANBAR NETO
Médico-cirurgião, diretor da Faceres, escritor e membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Arlec). Escreve quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras