Casa de Chá ao Luar de Agosto
Por convicções pessoais, (Trump) coloca-se no direito de desrespeitar nossas instituições, com “armas nucleares modernas”

Casa de Chá ao Luar de Agosto, belo filme do diretor americano Daniel Mann (1912-1991), foi baseado em uma peça vencedora do Tony Award, escrita em 1953 por John Patrick (1905-1995). A película retrata acontecimentos após o lançamento da bomba atômica que matou milhares de pessoas, 140.000 em Hiroshima e 70.000 em Nagasaki em agosto de 1945, com reflexos até hoje na saúde física causados pela radiação e na saúde mental, originados por tal barbárie.
Tal catástrofe forçou a rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. Depois disso, as tropas americanas ocuparam o país e "iniciaram uma campanha de americanização com o objetivo de transmitir os princípios e valores da democracia ocidental para libertar o povo de todas as formas de opressão. A ordem era reanimar a economia produzindo pequenos itens e, com base no consenso de seus habitantes, construir uma escola em forma de pentágono. No entanto, a população se opõe, no que resulta em uma sátira à dominação norte-americana com cenas muito engraçadas, personagens muito simpáticos, uma mensagem pacifista em defesa da agricultura orgânica e uma defesa das cooperativas produtivas no auge da perseguição a suspeitos de comunismo liderada pelo senador Joseph McCarthy (1908-1957)".
Seria cômico se não fosse trágico.
No imaginário popular brasileiro há a crendice de se atribuir a agosto, mês do desgosto e do cachorro louco. Acontecimentos marcantes no Brasil parecem reforçar a ideia de que seja mesmo um mês nefasto. Para relembrar alguns deles: suicídio de Getúlio Vargas; a renúncia de Jânio Quadros, que contribuiu para o golpe de estado de 64, que implantou a ditadura no país por 21 anos e a promulgação do AI- 5 (Ato Institucional número cinco), símbolo da violência instaurada no país pelos militares no poder, naquela ocasião.
Por incrível que pareça começo a acreditar no sentimento popular. Agosto de 2025 nos traz uma nova Casa de Chá ao Luar de Agosto, com um cachorro louco do norte da América, o qual se imagina o dono do mundo, a atacar atualmente, não só o Japão, mas principalmente o Brasil e a soberania nacional. Por convicções pessoais coloca-se no direito de desrespeitar nossas instituições, com “armas nucleares modernas” que, da mesma forma atingem a população e a economia nacional, no intuito de obrigar em sua estupidez, punir com sanções descabidas, àqueles que criticam e contrariam seus postulados e não se submetem a sua opressão, Não aceita e os trata como inimigos numa guerra comercial sem precedentes históricos jamais vistos.
Não obstante, apesar de você, como canta Chico Buarque, com a mesma estética do filme original que tem posições filosóficas, culturais e emocionais dos habitantes, construiremos nossa Casa de Chá ao Luar de Agosto e amanhã há de ser outro dia:
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente.
Apesar de você!
MERLI DINIZ
Professora, advogada, poeta e cronista. Vice coordenadora da Comissão de Direito e Literatura da 22ªSubseção da OAB Rio Preto. Escreve quinzenalmente neste espaço às quintas-feiras