Diário da Região
PAINEL DE IDEIAS

Novembro sempre azul

Novembro Azul, enlaçado pela fita azul, veio a reboque do Outubro Rosa, com a finalidade de alertar os homens da importância do diagnóstico preventivo do câncer de próstata

por Eudes Quintino de Oliveira Júnior
Publicado em 07/11/2025 às 19:11Atualizado em 08/11/2025 às 09:49
Eudes Quintino de Oliveira Júnior (Eudes Quintino de Oliveira Júnior)
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O novembro azul já nasce, não com a tonalidade delicada do Outubro Rosa, mas sim enlaçando o azul, cor que retrata o céu e o mar traduzindo harmonia e segurança e, acima de tudo, sensação de amplitude, bem-estar e liberdade. A data surge com a intenção de conscientizar o homem a fazer a devida prevenção do câncer de próstata e orientá-lo a respeito dos exames preventivos, como o toque retal e o PSA, ambos com chances de aumentar consideravelmente a cura. Trata-se de uma campanha, endossada como política pública, que já vem se solidificando e atingindo consideravelmente seu intento.

Novembro Azul, enlaçado pela fita azul, veio a reboque do Outubro Rosa, com a finalidade de alertar os homens da importância do diagnóstico preventivo do câncer de próstata. O nome é relacionado com o dia 17 de novembro, considerado o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata. Na Austrália, em 2003, surgiu o movimento Movember, que é a junção da palavra moustache, que significa bigode, com “november”, referente ao mês de novembro, dedicado à saúde do homem. Daí que os símbolos da campanha passaram a ser, no Brasil, o bigode e a fita de cor azul.

Assim, o Ministério da Saúde edita programa relacionado com o câncer de próstata buscando a população masculina na faixa etária dos 20 aos 59 anos de idade, com a finalidade de chamar a atenção e despertar o interesse pela própria saúde, além de propiciar os serviços, preventivos ou não, dos agravos com maiores taxas de ocorrência.

A Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo, por sua vez, implantou um interessante programa que carrega um nome chamativo: “Filho que AMA leva o pai ao AME”, que visa alertar o filho a convencer o pai para uma consulta médica, oportunidade em que se avistará com profissionais da enfermagem para as avaliações necessárias, além de exames laboratoriais de sangue e eletrocardiograma e também com consultas com cardiologistas e urologistas.

Com o arsenal tecnológico de hoje à disposição da medicina científica, exames de última geração vêm explorando e conseguindo ótimos resultados para se obter a leitura do genoma humano, descoberta que possibilita a correção de eventual enfermidade genética que acompanha seguidas gerações.

Pois bem. Como é sabido, a atriz Angelina Jolie, em razão do mapeamento genético que resultou positivo para a potencialidade do câncer que vitimou sua mãe - cerca de 87% de desenvolver a mesma doença, sem apresentar, no presente, qualquer início da moléstia - submeteu-se a uma mastectomia dupla (retirado dos seios).

Pode se imaginar, no mesmo caminho, quando, a situação de um homem que carrega histórico familiar favorável ao desenvolvimento de câncer de próstata e se submeta a um mapeamento genético, conclusivo pela potencialidade da doença, unicamente pelas informações genéticas, sem apresentar, no presente, qualquer início da moléstia.

A pergunta que se faz é se justifica a intervenção médica preventiva com a confiança no provável desenvolvimento das células cancerosas. Quer dizer, a cirurgia será realizada em um paciente saudável no momento atual e sem os sintomas, mas com possibilidade de desenvolver a doença.

Indiscutível a nova realidade que se avizinha e com ela espessas nuvens precisam ser dissipadas. O procedimento invasivo, se optado pelo paciente, será realizado ainda sem a manifestação da doença e, no caso de prostatectomia radical, além da possível aplicação da radioterapia, carregará o receio da impotência sexual e da incontinência urinária. É, realmente, uma decisão que irá marcar uma nova etapa na prevenção médica da humanidade, tendo como sustentáculos os princípios da autonomia da vontade do paciente e da beneficência, ambos da Bioética.

EUDES QUINTINO DE OLIVEIRA JÚNIOR

Promotor de justiça aposentado, advogado, membro da Arlec. Escreve quinzenalmente neste espaço aos sábados