Diário da Região
PAINEL DE IDEIAS

Sobre o falso e a verdade na antiguidade

Confucius sujeitava o percurso estratégico de um povo com base na perseguição do princípio de justiça, visto objetivamente, e compreendido no conceito de YI

por Durval de Noronha Goyos Jr.
Publicado em 09/09/2025 às 21:11Atualizado em 10/09/2025 às 11:33
Durval de Noronha Goyos Jr. (Durval de Noronha Goyos Jr.)
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A temática da verdade e do falso nos intriga desde a antiguidade. Confúcio foi um sábio chinês, quem viveu entre 552 a.C. e 479 a.C., cujo pensamento teve uma influência civilizatória única, a qual se estende até os dias atuais. O seu trabalho filosófico antecedeu aquele grego por mais de 1 século, ao qual foi considerado superior por Voltaire. Confúcio acreditava que a justiça social se assentasse na verdade, ao passo que a falsidade corrompia as relações sociais e conduzia ao conflito e à desordem. O conceito confuciano de YI promovia a verdade compreendida naquilo que é justo, determinado objetivamente. Ele ensinou, nos Analectos, que “o homem elevado professa o YI; o diminuto busca o lucro”. Por sua vez, o conceito de XIN condena a falsidade.

Confucius sujeitava o percurso estratégico de um povo com base na perseguição do princípio de justiça, visto objetivamente, e compreendido no conceito de YI. Segundo o Mestre, “a prosperidade substantiva de uma nação não consiste em sua afluência material, mas na busca da Justiça, expressa nos conceitos de YI e de XIN. Os ensinamentos de Confúcio, de uma maneira geral e, particularmente, sobre a afluência moral da nação, foram levados adiante por seu discípulo Mencius (372 a.C. – 289 a.C).

A filosofia grega sobre os temas do falso e do verdadeiro elegeu a contradição respectiva como um dos seus temas centrais. O seu principal expoente foi Platão (429 a.C.-347 a.C.), quem fazia daquela dicotomia a questão central do seu pensamento. Ele via como verdadeiro o mundo das ideias e o real como imperfeito, baseado no subjetivismo e nas opiniões. Em defesa dos seus princípios, Platão lançou-se numa guerra filosófica contra os sofistas, filósofos mercenários. O pensamento dos sofistas valia-se do jogo de palavras para promover a falsidade.

A ação dos sofistas, “profissionais da difamação” foi tida por Aristóteles (384 a.C – 322 a.C.), discípulo de Platão, como um mero exercício verbal que visava uma vitória imoral dos interesses pessoais, abandonando-se os melhores valores pela imoralidade, como inimigos da verdade. Segundo ele, os sofistas não se ocupavam da realidade, mas sim da versão expediente para os seus fins escusos. Para grande poeta greto, Aristófanes, em ‘As Nuvens’, os sofistas eram mestres no pior discurso, usado para contradizer a melhor razão. O poeta os via como “canalhas, cínicos, hipócritas e capciosos”. Na filosofia, a hipocrisia é vista como uma modalidade de mentira.

São Tomás de Aquino OP (1225-1274) foi um dos mais destacados doutores da Igreja, quem desenvolveu o pensamento de Platão e Aristóteles no tratamento da verdade e do falso sob a perspectiva cristã. São Tomás via a verdade como adequação da coisa e do intelecto, princípio segundo o qual não se pode escapar da realidade na aferição da verdade, ainda que vista subjetivamente. Assim, ele toma em conjunto os elementos objetivo e subjetivo para a definição da verdade, ao invés de uma situação de contradição, debate que se prolonga até os dias atuais, exacerbado pelos desenvolvimentos tecnológicos e dos veículos da Internet.

DURVAL DE NORONHA GOYOS JR.

Escritor polígrafo. Estudou filosofia com os professores Edoardo Guerin, Elaine Munia, Franco Montoro e Frei Paulo E. Rezende OP. Escreve quinzenalmente neste espaço às quartas-feiras