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DISCURSOS

Lula e Trump fazem troca de acusações na ONU, mas marcam encontro para a próxima semana

Presidente brasileiro cita condenação de Bolsonaro e recusa anistia; Trump diz que Brasil faz perseguição política, mas afaga Lula: “Ele me parece um homem muito bom”

por Agência Estado
Publicado em 23/09/2025 às 13:54Atualizado em 23/09/2025 às 17:03
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (Daniel Torok/Casa Branca)
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Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (Daniel Torok/Casa Branca)
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, revelou, em discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que passou brevemente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos corredores da sede da ONU nesta terça-feira (23) em Nova York e que os dois concordaram em marcar uma reunião. "Lula e eu nos abraçamos e concordamos em nos encontrar", disse, confirmando que o encontro ocorrerá na próxima semana.

Ele afirmou ter "gostado" do presidente Lula durante o rápido encontro que tiveram nos corredores da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira, 23, em Nova York (EUA). "Ele parece ser um homem muito legal", disse o líder americano no discurso. "Eu gostei dele e ele gostou de mim. E eu apenas faço negócios com pessoas de quem eu gosto", acrescentou Trump.

O republicano acrescentou que a interação com o presidente Brasileiro durou 39 segundos. "Tivemos excelente química. Isso é um bom sinal", destacou.

Apesar do gesto diplomático, Trump fez críticas ao Brasil. Ele afirmou que o País "enfrenta grandes tarifas por tentar censurar cidadãos americanos" e acusou o governo brasileiro de "perseguir opositores políticos nos EUA". O republicano contou que passou por Lula ao subir ao púlpito e "não imaginava falar isso sobre o Brasil", mas defendeu que medidas tarifárias são um "mecanismo de defesa para os americanos" e uma forma de "garantir a soberania dos EUA".

Trump reiterou que seu governo busca "acordos comerciais justos e recíprocos com todos os países do mundo", mas deixou claro que continuará a usar tarifas como instrumento de pressão quando considerar os interesses dos EUA ameaçados.

Críticas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou as sanções impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, por causa do processo contra Jair Bolsonaro, e disse que "não há pacificação com impunidade".

Na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira, 23, Lula iniciou seu discurso com um recado duro contra os Estados Unidos e contra Bolsonaro, apesar de não mencionar nominalmente o ex-presidente brasileiro, os norte-americanos ou mesmo o presidente Donald Trump. Também disse que a autoridade da Organização das Nações Unidas (ONU) "está em xeque".

O petista disse que o Brasil, "mesmo sob ataque sem precedentes", decidiu "resistir e defender sua democracia". Segundo ele, "em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades, cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias cívicas e digitais e cerceiam a imprensa"

"Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade", declarou.

O presidente decidiu não falar nominalmente sobre Bolsonaro, mas foi explícito ao mencionar o caso do ex-presidente. Disse que ele foi condenado por tentar dar um golpe de Estado "em um processo minucioso" e que ele "teve amplo direito de defesa".

"Há poucos dias e pela primeira vez em nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado democrático de direito. Foi investigado, indiciado e julgado e responsabilizado por seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas", afirmou.

"Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e aqueles que os apoiam. Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis", disse, sob aplausos. E continuou: "Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela. Democracias sólidas vão além do ritual eleitoral."

Lula disse que a Assembleia Geral das Nações Unidas "deveria ser um momento de celebração", já que a ONU "simboliza a expressão mais elevada da aspiração pela paz e prosperidade".

"Hoje, contudo, ideais que inspiraram seus fundadores estão ameaçados como nunca estiveram em sua história. O multilateralismo está diante de uma nova encruzilhada. A autoridade desta organização está em xeque. Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra", afirmou, em crítica direta ao poder da ONU hoje em dia e sua autoridade para evitar conflitos mundo afora.