Presos por ataque hacker exigiram resgate de R$ 500 mil em bitcoin para devolver dados à Prefeitura de Rio Preto
Dois funcionários concursados da Empresa Municipal de Processamento de Dados (Empro) foram presos na manhã desta terça-feira, 7, suspeitos de envolvimento no ataque cibernético que paralisou os sistemas da Prefeitura de Rio Preto entre 5 e 11 de junho deste ano

A Polícia Civil de Rio Preto cumpriu nesta terça-feira, 7, mandados de prisão temporária por cinco dias contra dois servidores da Prefeitura de Rio Preto, além de busca e apreensão na residência de um terceiro servidor.
Os três são concursados da Empro (Empresa Municipal de Processamento de Dados) e suspeitos de envolvimento no ataque cibernético que paralisou os sistemas da Prefeitura entre 5 e 11 de junho deste ano.
O trio foi alvo da Operação Caim, que cumpriu mandados em Rio Preto e Mirassol, cidades em que residiam os três suspeitos. Foram apreendidos computadores e celulares dos suspeitos, que serão enviados para o Instituto de Criminalística e o setor de inteligência da Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Rio Preto.
APAGÃO
Durante o ataque, a Prefeitura perdeu acesso à sua rede de computadores, porque o acesso foi bloqueado. Os responsáveis pediam um resgate de R$ 500 mil em bitcoin, moeda eletrônica, para fornecer a senha e devolver o sistema à administração municipal.
A invasão afetou todos os setores da Prefeitura e desabilitou plataformas essenciais do serviço público, dentre as quais o telefone do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o da Guarda Civil Municipal.
Os dois servidores presos são os analistas de suporte Fernando Peres Pinheiro, que tinha um salário de R$ 10.498,30, e Felipe Ponchio Garcia, com salário de R$ 7.312,25. Os dois entraram na administração municipal nos anos de 2010 e 2011, respectivamente, mediante aprovação em concurso público.
O terceiro servidor, também analista de suporte, é funcionário concursado desde 2010 e tinha um salário de R$ 13.592,14, conforme dados do Portal da Transparência.
“O grupo chegou a exigir valores entre R$ 200 mil e R$ 500 mil, mas a Prefeitura não efetuou nenhum pagamento”, informou Everson Contelli, delegado seccional de Rio Preto.
“O ataque gerou transtornos significativos, principalmente na área da saúde, onde médicos e enfermeiros ficaram sem acesso a prontuários e fichas de pacientes. Isso dificultou o atendimento e afetou diretamente os serviços prestados à população”, explicou o diretor do Deinter, José Luís Ramos Cavalcanti.
Segundo Contelli, os dois servidores suspeitos teriam criado uma rotina dentro da rede de informática da Prefeitura para impedir o acesso.
“Trata-se de pessoas com experiência em informática, cujo objetivo aparente era causar o caos e paralisar serviços públicos, mas não se descarta a hipótese de sabotagem”, completou Contelli.
O delegado responsável pelo caso, Adriano Pitoscia, nega que a intenção dos funcionários tenha motivação política, mas diz que ainda vai questionar em depoimento por que eles resolveram sequestrar os dados da Prefeitura.
“Podemos dizer que a motivação deles para fazer o bloqueio da rede de computadores da Prefeitura não foi política, mas, além do pedido de resgate em bitcoins, não conseguimos descobrir qual a real intenção”, diz o delegado.
Na época, o prefeito coronel Fábio Cândido (PL), sugeriu em entrevistas e vídeos que o ataque cibernético teria motivações políticas. "A quem interessa obter ou destruir informações da Prefeitura? Fica aí nossa preocupação”. Mas a polícia descartou essa possibilidade.
Uma das possibilidades a serem apuradas pela Deic é uma possível intenção dos suspeitos, que também são donos de empresas de assistência em informática, de terem suas empresas de consultoria contratadas pela Prefeitura para resolver o problema criado por eles.
Governo
Por meio de nota, a Prefeitura agradeceu o empenho do Deic e da Empro na investigação do ataque hacker. "Desde o início do ocorrido, os órgãos da administração municipal e a Polícia Civil têm atuado de forma conjunta para identificar e responsabilizar os envolvidos, bem como apurar os interesses por trás da ação que comprometeu os sistemas municipais", diz o texto. “Independentemente da origem dos suspeitos, todos serão investigados e punidos com o rigor da lei”, segue a nota oficial.
A Prefeitura não deixa claro se os três servidores serão afastados e se vão ser alvos de processo administrativo, que pode resultar em demissão.
Defesas falam em 'exagero'
O advogado Alessandro Tavares Nogueira de Lima, que defende Fernando Peres Pinheiro, classificou a prisão temporária de seu cliente como desnecessária e afirmou que o servidor público colaborou em todos os momentos com as investigações.
“Ele colaborou integralmente durante a investigação e não há, na nossa avaliação, necessidade de manter a prisão. A defesa entende que não há risco de fuga nem prejuízo à apuração dos fatos”, declarou o advogado, que representa dois dos investigados.
Também advogado do outro servidor municipal investigado que não chegou a ser preso, Lima afirma ser tecnicamente difícil a Polícia Civil comprovar, de fato, que seu cliente foi responsável pelo ataque, porque a Empro seria alvo de milhares de ataques hackers todos os anos.
Contratado para defender Felipe Ponchio Garcia, o advogado Diego Carretero diz que a prisão de seu cliente foi exagerada, porque ele compareceu à Deic todas às vezes em que foi chamado para prestar esclarecimentos.
“Não há fundamentos para o decreto prisional. O cliente colaborou com a investigação, não tem antecedentes e não há provas que o incriminem”, afirma o advogado.
Os dois advogados não informaram se vão entrar com recurso na Justiça contra as prisões de seus clientes.